quinta-feira, 25 de junho de 2009

Indirect light

"Quando se ouve dizer que alguém disse qualquer coisa 'desprimorosa' a seu respeito, lembra-se logo das noventa e nove vezes que reprimiu o desejo de exprimir, sobre esse alguém, a crítica que considerava justa e merecida, e esquece-se da centésima vez em que, num momento de desatenção, afirmou a respeito dele o que julgava ser a verdade. 'Esta é a recompensa- perguntará a si próprio- de toda a minha longa indulgência?' O problema, visto do lado oposto, apresenta-se de uma forma diferente: ... ele nada sabe das noventa e nove vezes em que você se calou, pois conhece apenas a centésima vez em que falou!"
[Bertrand Russell, in "Os Outros"]
"Na verdura dos seus anos, a preocupação do escritor parece ser a da originalidade. Ser-se original é mostrar-se que se é 'diferente'. E as pessoas gostam das primeiras piruetas que um sujeito dá. E o sujeito gosta de que as pessoas vejam nele um talento. E vêm aí as receitas, as ideias feitas, os passes de mão, os clichés, os lugares selectos ou, mais comezinhamente, os lugares comuns. O escritor está instalado. Revê-se na sua obra. Começa a abalançar-se a voos mais altos, a mergulhos mais fundos. É a intelectualidade que o chama ao seu seio, o público é que o põe, vertical, nas suas prateleiras. Arrumado."
[Alexandre O'neill, in " Desaprender"]

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