segunda-feira, 20 de julho de 2009

Intimidade: o carrasco de sí mesmo

"Se homens ou mulheres têm de partilhar por algum tempo o mesmo espaço (em viagem, morando sob o mesmo teto, numa carruagem-cama ou numa pensão superlotada), não é raro nascerem, nessas situações, amizades muito singulares. Cada um tem a sua maneira especial de lavar os dentes, de se curvar para descalçar os sapatos ou de encolher as pernas para dormir. A roupa interior, e o resto do vestuário, embora semelhantes, revelam, no pormenor, inúmeras pequenas diferenças a um olhar atento. A princípio - provavelmente devido ao individualismo excessivo - existe qualquer coisa como uma resistência, semelhante a uma leve repugnância, e que rejeita uma aproximação maior, uma ofensa contra a própria personalidade, até o momento em que essa resistência é superada para dar lugar a uma comunidade que revela uma estranha origem, como uma cicatriz...
Muitas pessoas mostram-se, depois de tal transformação, mais alegres do que normalmente são; a maior parte mais inofensivas; uma boa parte delas mais faladoras; e quase todas mais amáveis. A sua personalidade mudou, quase se poderia dizer que foi trocada, subcutaneamente, por outra, menos marcada: no lugar do eu, surge o primeiro indício de um nós... claramente sentido como um mal-estar a princípio, mas de uma transformação, no fundo, no fundo, irresistível."
[Robert Musil, in "O Homem sem Qualidades"]
"A intimidade excessiva desencadeia hostilidades... "
e
"A dificuldade é um severo instrutor..."
[Agustina Bessa-Luís e Edmund Burke]
Bonjour!

Um comentário:

Anônimo disse...

Tenho um amigo que diz que o auge da intimidade, é quando se peida junto, rs rs
brincadeira , não se assuste,,,rs rs
ríndo muito aquí...
mesmo pq ele é gente muito fína e educado , mas o símbolismo é perfeito.
E quando vc termina o texto com a frase: "A intimidade excessiva desencadeia hostilidades...." não seí se concordo ou não, mas o que penso é que realmente ao vivermos uma expressiva intimidade , estamos mais expostos, nus, e este momento pode gerar maiores espectativas de cumplicidade.
E aí está o perigo: as EXPECTATIVAS,,,,
Dígo sempre: não gosto de ter expectativas, prefiro o inesperado.
O que vier de ruim, eu dígo não, e o resto é lucro, rs.
BJSSSSSSSSS
adorando estas suas reflexões...
MINEIRA

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