terça-feira, 26 de julho de 2011

Mais que bondade!

As almas bem ajustadas por si mesmas e bem nascidas seguem o mesmo andamento nas suas ações e apresentam a mesma aparência que as virtuosas. Aquele que com uma doçura e complacência naturais menosprezasse as ofensas recebidas faria coisa mui bela e digna de louvor; mas aquele que, espicaçado e ultrajado até o âmago por uma ofensa, se armasse com as armas da razão contra o apetite de vingança e, após um grande conflito, finalmen­te o dominasse, sem a menor dúvida seria muito mais. Aquele agiria bem, e este virtuosamente: uma ação poder-­se-ia dizer bondade; a outra, virtude, pois parece que o nome de virtude pressupõe dificuldade e oposição, e que ela não pode se exercer sem combate.  Parece-me que a virtude é coisa diferente e mais nobre do que as inclinações para a bondade que nascem em nós. A virtude pede um caminho áspero e es­pinhoso; e quer ter: ou dificuldades externas para combater, por meio das quais o destino se com­praz em interromper a marcha, ou dificulda­des internas provocadas pelos apetites desor­denados e pelas imperfeições de nossa condição. A virtude rejeita a comodidade como companhia; e esse caminho fácil, ameno e suave, por onde se conduzem os pas­sos bem ajustados, não é o da verdadeira virtude. 
Michel de Montaigne
Bonjour!

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